sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Adão e Ivo - a Bíblia Reinvetada por Alemberg Santana

Michelangelo

No princípio Deus criou os céus e a terra. E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas. E disse Deus: Haja luz; e houve luz. E viu Deus que era boa a luz; e fez Deus separação entre a luz e as trevas. E Deus chamou à luz Dia; e às trevas chamou Noite. E foi a tarde e a manhã, o primeiro dia. No segundo dia Ele separou as águas, a água doce da salgada e a água dos Céus das demais, no terceiro dia criou os mares, rios, lagos e a terra firme, assim como toda a flora. O sol, a lua, as estrelas e o tempo foram criados no quarto dia. No quito, as aves e os animais aquáticos. No sexto os animais terrestres, o homem e a mulher. Assim os céus, a terra e todo o seu exército foram acabados. E havendo Deus acabado no sétimo dia a obra que fizera, descansou no sétimo dia de toda a sua obra, que tinha feito. E abençoou Deus o sétimo dia, e o santificou; porque nele descansou de toda a sua obra que Deus criara e fizera. Estas são as origens dos céus e da terra, quando foram criados; no dia em que o SENHOR Deus fez a terra e os céus.

No sexto dia, o SENHOR Deus havia criado Adão, o primeiro homem e Lilith, a primeira mulher, com a missão de povoar a terra com seus descendentes. Havendo, pois, o SENHOR Deus formado da terra todo o animal do campo, e toda a ave dos céus, os trouxe a Adão, para este ver como lhes chamaria; e tudo o que Adão chamou a toda a alma vivente, isso foi o seu nome. E Adão pôs os nomes a todo o gado, e às aves dos céus, e a todo o animal do campo. E Adão tinha o domínio sobre todas as coisas. Porém, Lilith rebelou-se, recusando-se a ficar sempre em baixo durante as suas relações sexuais. Lilith reclamou: ‘‘Por que devo deitar-me embaixo de ti? Por que devo abrir-me sob teu corpo? Por que ser dominada por ti? Contudo, eu também fui feita de pó e por isso sou tua igual.’’ Quando reclamou de sua condição a Deus, ele retrucou que essa era a ordem natural, o domínio do homem sobre a mulher, dessa forma abandonou o Éden. Três anjos foram enviados em seu encalço, porém ela se recusou a voltar.

Adão ficou só e como precisava de uma ajudadora idônea. Então o SENHOR Deus fez cair um sono pesado sobre Adão, e este adormeceu; e tomou uma das suas costelas, e cerrou a carne em seu lugar. E da costela que o SENHOR Deus tomou do homem, formou uma mulher, e trouxe-a a Adão. E disse Adão: Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne; esta será chamada mulher, porquanto do homem foi tomada. Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne. E ambos estavam nus, o homem e a sua mulher; e não se envergonhavam.


Adão, Eva e Lilith (imagem do google)

Ora, Lilith havia enganado o SENHOR Deus se transformara em serpente e era mais astuta que todas as alimárias do campo que o SENHOR Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda a árvore do jardim? E disse a mulher à serpente: Do fruto das árvores do jardim comeremos, Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis para que não morrais. Então a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal. E viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento; tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela. Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; e coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais. E ouviram a voz do SENHOR Deus, que passeava no jardim pela viração do dia; e esconderam-se Adão e sua mulher da presença do SENHOR Deus, entre as árvores do jardim. E chamou o SENHOR Deus a Adão, e disse-lhe: Onde estás? E ele disse: Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me. E Deus disse: Quem te mostrou que estavas nu? Comeste tu da árvore de que te ordenei que não comesses? Então disse Adão: A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e comi. E disse o SENHOR Deus à mulher: Por que fizeste isto? E disse a mulher: A serpente me enganou, e eu comi.

Então o SENHOR Deus disse a Adão: Porquanto deste ouvidos à voz de tua mulher, e comeste da árvore de que te ordenei, dizendo: Não comerás dela, maldita é a terra por causa de ti; com dor comerás dela todos os dias da tua vida. Espinhos, e cardos também, te produzirá; e comerás a erva do campo. No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás. E chamou Adão o nome de sua mulher Eva; porquanto era a mãe de todos os viventes. E fez o SENHOR Deus a Adão e à sua mulher túnicas de peles, e os vestiu.
Então disse o SENHOR Deus: Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal; ora, para que não estenda a sua mão, e tome também da árvore da vida, e coma e viva eternamente. o SENHOR Deus, pois, o expulsou do jardim do Éden, para lavrar a terra de que fora tomado.

Tamanha fora a decepção do SENHOR Deus como as mulheres que havia criado: Lilith e Eva, que pôs querubins ao oriente do jardim do Éden, e uma espada inflamada que andava ao redor, para guardar o caminho da árvore da vida. E criou Ivo, o segundo homem para guardar e preservar todas as maravilhas que possuí o jardim do Éden.

“No princípio foi o engano. Difícil é saber quem enganou quem. Primeiro Adão, envergonhado de seu ato, tenta enganar a Deus: esconde-se com Eva entre as árvores do Éden. Descoberto, contudo, ele admite perante Deus a traição da promessa de não tocar no fruto proibido. O que Adão tenta, então, é eximir-se da culpa acusando Eva de tê-lo oferecido sedutoramente a ele. Eva, por sua vez, responde à interpelação divina apontando o dedo acusador para a serpente: foi ela quem a teria enganado e persuadido a provar o fruto. A serpente, porém, o que disse? Ela contou a Eva que a ameaça feita por Deus era enganosa – que eles não morreriam ao comer o fruto, mas que os seus olhos se abririam e eles se tornariam semelhantes a Deus no discernimento do bem e do mal”. (Auto-engano / Eduardo Gianneti – São Paulo: Companhia das Letras, 1997) E Eu: Alemberg Santana tentei enganar vocês criando Ivo e trazendo Lilith, um personagem da Cabala, para o mito de Adão e Eva.

Já confessei, aqui, que sou doente, criminoso e pecador, agora lhes revelo que sou viciado em mentiras. Já fui tantas vezes vítima de atos mentirosos que resolvi ir a campo e pesquisar sobre a mentira, o auto-engano e suas conseqüências. Descobri que só somos autênticos e sinceros até os três meses de idade, depois disso aprendemos (literalmente) no berço a utilizar artifícios para chantagear nossos pais, mas tudo na maior inocência, pois só em torno dos sete anos que passamos a diferenciar com clareza o falso do verdadeiro. E mesmo depois de adquirir, a capacidade de separar o falso do verdadeiro, a cada dez minutos de conversa contamos duas ou três mentirinhas deslavadas, afirma Robert Feldman, psicólogo do Centro de Ciências Sociais e de Comportamento da Universidade de Massachusets. Afinal, somos estimulados a mentir de maneira socialmente aceitável desde cedo, por meios dos mais diversos modos de punição, somos obrigados a fingir respeito, a agradecer pelos presentes que não gostamos e não emitir opiniões sinceras etc. E quem não consegue dominar com maestria, a arte da mentira social, paga o alto preço do ostracismo. 

Inseto ou folha? (imagem do google)

Se a verdade, nada mais que a verdade é tudo que a humanidade almeja, por que mentimos? Porque o engano parece ser a regra e não a exceção. A idéia de que a função da comunicação animal ou vegetal é transmitir uma informação verdadeira do emissor para o receptor é uma idealização romântica da Natureza. O mundo é povoado por exímios mentirosos. O camaleão mente que é verde quando está num ambiente verde, marrom quando está num ambiente marrom. A camuflagem ou mimetismo é a arte do disfarce, é quer parecer o que não se é. E é uma grande mentira. Vermes, insetos, peixes, anfíbios, aves e até mamíferos usam e abusam desse recurso: mudam de cor e até de forma para parecerem o que não são – maiores, ferozes ou nocivos. A cobra-garter macho (Thamnophis sirtalis parietalis), que habita as regiões geladas do Canadá, produz um feromônio feminino para atrair outros machos, não no intuito de casalar, mas sim, aproveitar-se de outros machos para se manterem aquecidos, aumentando sua temperatura interna em até três graus centígrados. Outras espécies usam o travestismo para tirar vantagem, as fêmeas de alguns insetos imitam os machos para fugirem do assédio sexual de machos assanhados. A natureza mente deslavadamente e nós fazemos parte dessa Natureza.


O problema é que a mentira tem pernas curtas, o mimetismo, por exemplo, só funciona bem quando os animais estão estáticos, em movimento são facilmente desmascarados. E ser pego numa mentira, às vezes, pode ser fatal, por isso os trapaceiros precisam demandar tempo aperfeiçoando seus métodos de mentir, enganar, engabelar, lubridiar. É fato, que cedo ou tarde, a Verdade sempre vem à tona, o tempo que se leva para desmascarar o mentiroso, depende da eficácia de quem mente e da presteza em detectar as Mentiras, pela parte ofendida.

A mentira é um mecanismo de defesa facilmente acessível, amplamente difundido e o menos eficaz de todos os mecanismos que um ser pode usar. E irmã xipófaga da exploração, se separadas, ambas morrem. Mente-se de diversas maneiras. Mente-se para si mesmo e para o outro, mentes falando ou omitindo certas falas, mente-se dizendo a verdade ou omitindo algumas verdades, mente-se mentindo. Mente-se atribuindo ao Outro aquilo que é seu (rejeição), mente-se atribuindo a nós mesmo o que é do Outro (projeção), mente-se esquecendo o que não era para ser esquecido (repressão). A mentira está em todas as coisas, em todos os lugares, entrelaçada com a verdade, enraizada na história. A mentira é uma verdade inventada e insustentável que tem como principal objetivo tirar proveito do Outro. 

Adão & Ivo (imagem do google)

Eu não acredito em Adão & Eva e nem na Santa Madre Igreja Católica, descobrir cedo que ela mente e nos explora. E eu de tanto viver com suas mentiras, aprendi a inventar as minhas próprias verdades, acredito em Adão & Ivo. 


"A mentira começa com a pessoa, a verdade é anterior a ela". 
Eugênio Musaka


PS: Mentira que a primeira parte do texto fui eu que escrevi, ele foi tirado do site: http://www.bibliaonline.com.br/acf/gn/1, com minhas devidas alterações. Assim como eles, eu invento as minhas verdades. 

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

O Pior Menino da Rua

Jean Genet

Jean Marcel Genet (1910-1986), escritor, poeta e dramaturgo, considerado pela crítica especializada, o poeta do escândalo e da insubordinação. Filho de uma prostitua e pai desconhecido, foi abandonado pela mãe na assistência pública e depois adotado por um casal de Morvan, na Borgonha. Embrenhou no submundo do crime logo cedo, na adolescência já praticava pequenos furtos na sua própria casa e na vizinhança, certamente era o pior menino da sua rua. Após abandonar a família adotiva, passou a juventude em reformatórios e prisões; quase sempre por roubo de cortes de tecidos, camisas e livros; onde afirmou sua homossexualidade. De vida errante, morou em diversas cidades da Europa como mendigo-prostituto, tendo como companheiros uma “matilha” de pessoas marginalizadas pela sociedade: ladrões, prostitutas, travestis, cafetões e muitos outros. Condenado, por crime de morte, à prisão perpétua passou grande parte da sua vida reclusa em diversas cadeias, que paradoxalmente, tornou-se sua fonte inspiradora de grande parte de sua obra literária. Conseguindo o milagre de transformar sua vida marginal e sem esperanças em literatura de inquestionável qualidade, escrita em sangue, suor e esperma. Uma literatura nua e crua, mas sem perder a poesia. A grande virada da sua vida ocorreu em 1943, ao ser apresentado ao filósofo Jean-Paul Sartre e ao poeta e cineasta Jean Cocteau, que logo se tornou seu admirador e encontrou um editor para o livro: Nossa Senhora das Flores (1944), considerado por muitos críticos a sua obra-prima. “Nela, é retratada a solidão do homem e a hipocrisia das relações humanas, fazendo do livro uma autêntica epopéia do mundo marginal”. “É a história heróica de vida e morte de um travesti chamada Divina apaixonada por Mignon, um macho cafetão igualmente ladrão e impostor que lhe impõe traição e abandono”. E se não me falha a memória, é logo no primeiro capitulo, que li a frase mais saborosa do livro, que diz algo mais ou menos assim: “eu fui atraído ao mundo do crime pela virilidade dos homens” e se a frase não é exatamente assim, pelo menos é exatamente assim que vejo a associação do gay e a marginalidade. E tenho a minha própria historia para lhes contar.

Quando criança, eu era tímido, inseguro e titubeante. Tinha o choro fácil e era praticamente autista, somado a tudo isso era gordinho e tinha uma sensibilidade à flor da pele. Tudo me amedrontava, tinha medo do escuro, de bichos, de gente, de beijos e até de desenhos animado. Eu: Alemberg Santana preferia brincar sozinho, a ter que aturar outras crianças, pois no meu mundo solitário não havia lutas, disputas e nem necessidade de marcar território, o mundo era todo meu, só meu e do meu jeito. Quis o destino que eu crescesse rapidamente e como o meu mundinho já não mais me cabia, então comecei a explorar outros mundos e descobri cedo, que o mundo não tem fronteiras. Descobri um mundo de cores, sabores, aromas, sensações e desejos, muitos desejos. Desejos por meninos – pelo meu “melhor amigo”, que me arrepiava e pelo “pior menino da rua” , que me enlouquecia. Meu “melhor amigo” entrava e sai lá de casa sem pedir licença, o “pior menino da rua” era proibido de entrar lá em casa. Meu “melhor amigo” era elogiado por todos e tirava nota dez, o “pior menino da rua” era odiado por todos e só ia para escola quando queria, o “pior menino da rua” era livre e nós éramos escravos de horários, normas e expectativas. Eu tinha que estudar para ser médico e meu “melhor amigo” para ser engenheiro (acho) e o “pior menino da rua” estudava quando queria e pelo visto ele tinha determinado que poderia ser qualquer coisa ou nada, mas os adultos diziam a boca pequena, que ele já era alguma coisa: era marginal.

Eu era “o menino bonzinho”. Educado, comportado, estudioso, criativo e obediente. Todos os atributos de bondade me pertenciam e os de maldade ao “pior menino da rua”: danado, mal educado, mal criado e pervertido. Eu era o anjinho e ele o capeta e éramos fieis aos nossos papeis. Fiz praticamente tudo que um “menino bonzinho” tinha que fazer para ser o bonzinho: tomei tônicos horríveis para poder “crescer bonito e saudável”, decorei a letra inteira do Hino Nacional, fiz curso de catecismo, caligrafia, datilografia etc, afinal era assim que tinha que ser e eu era o “menino bonzinho” e obediente. O “pior menino da rua” parecia não obedecer ninguém, além dos seus impulsos, era livre das convenções, ou melhor, ele era a própria contravenção e era o meu ídolo. Ele falava palavrões, batia nos outros meninos, tocava as companhias das casas e saia correndo, jogava pedra nas vidraças e nos loucos, faltava as aulas e só tirava notas baixas, quebrou perna, braço, cabeça e não parava dentro de casa. Ousei cometer algumas transgressões, mas nada que se comparassem as travessuras do “pior menino da rua”, afinal eu era o “menino bonzinho”

Aos 12 amos de idade eu continuava gordinho e tinha ganhado um par de óculos, para corrigir minha miopia de dois graus, estava dando intenção e direção para a minha sexualidade que oscilava entre meninos e meninas. Dei o meu primeiro beijo na minha vizinha, mas desejava mesmo era beijar meu “melhor amigo” e fazer sexo com o “pior menino da rua”. Como eu era o “menino bonzinho”, não fiz nem uma coisa nem outra, pelo menos, não aos 12 anos. E assim me tornei, com a ajuda dos outros, um “menino bonzinho” que beija, namora e hoje é casado com outro “menino bonzinho”, mas que nunca deixou de admirar e às vezes desejar, “os piores meninos da rua”.

“Os piores meninos da rua” são inconseqüentes, irresponsáveis, transgressores, sedutores, aproveitadores, preguiçosos, malandros, etc. Possuem corpos deliciosamente construídos em academias, campinhos de futebol ou sobre as ondas. Eles resolvem as brigas no muro, não levam desaforo para casa, não ligam para moda e nem etiquetas, não estão nem aí se Madonna vem ao Brasil e quando saem nos jornais, saem nas páginas policiais e são o oposto dos “meninos bonzinhos” que freqüentam as colunas sociais. ”Meninos bonzinhos” para continuarem bonzinhos rejeitam neles tudo que é próprio do “pior menino da rua” e vice versa. Ambos buscam no outro aquilo que lhe foi negado.




Meu convívio com “o pior menino da rua” durou pouco tempo. Tempo suficiente para eu presenciar e até ser conivente com alguns pequenos delitos dele. Ele saiu cedo da nossa cidade e foi aventura-se em outros mundos, em um dos seus poucos retornos me contou que na capital do nosso estado, havia conhecido uma boite onde “só tinha homem e os caras se beijavam na boca”. Soubemos depois que ele foi preso, depois foi solto, foi preso novamente e depois assassinado. “O pior menino da minha rua” teve uma vida breve e intensa.

Por outro lado Genet teve uma vida longa e gloriosa, com ajuda dos novos amigos consegui se livrar da condenação da prisão perpétua e produziu cerca de 40 obras, entre elas está O Milagre da Rosa (1945-1946), Pompas Fúnebres e Querelle – Amar e Matar (1947), que Rainer Fassbinder transformou em filme, e com a peça O Balcão (1947) revelou-se um dramaturgo de profundidade intelectual, precursor do teatro do absurdo. Também dirigiu um filme, Um Canto de Amor, em 1950, e escreveu vários roteiros. Eternizou sua vida em Diário de um Ladrão (1949), um romance autobiográfico, onde confessa aberta e escandalosamente ter sido ladrão e homossexual.

Dedico esse texto ao meu amigo Vilberto (in memória), que não soube separa as fronteiras do desejo da fantasia e foi brutalmente assassinado por seu companheiro, com um taco de beisebol.

 “Provavelmente não há um só homem que não deseje se tornar fabuloso, 
numa escala ampliada ou reduzida”. 
Genet

sábado, 20 de novembro de 2010

Peito & Pau.

Lea T

Ninguém nasce travesti, torna-se. É uma escolha ativa, às vezes incompreendida e mal vista, mas é uma escolha. A travesti é fruto de escolhas. Escolhe-se o tamanho dos seios, quadris, cabelos e lábios, escolhe-se o estilo de roupa e o nome. Mulheres lindas emergem de corpos do sexo masculino, geralmente num processo lento, doloroso e perigoso. “As travestis são centauros urbanos, duas vidas num corpo só. [...] A travesti nos fascina porque assume a verdade de sua mentira”, disse Arnaldo Jabor, no Jornal da Globo. A travesti não faz concessões, ela agrega valores: tem no mesmo corpo peito e pau. Não renuncia nenhum dos dois sexos, é simultaneamente: homem e mulher, nenhum dos dois gêneros, é simultaneamente: masculino e feminino. São duas vidas num corpo só.

Two-spirits
Para os demais mortais, inclusive Eu: Alemberg Santana, resta apenas a condenação de ser  homem OU mulher e a desempenharmos papéis sociais de acordo com nosso sexo biológico. “Em todas as culturas humanas, homens e mulheres são vistos como possuidores de naturezas diferentes. Todas as culturas dividem o trabalho por sexo, com mais responsabilidade pela criação dos filhos para as mulheres e mais controle das esferas públicas e políticas para os homens. [...] Em todas as culturas os homens são mais agressivos, mais propensos a roubar, a cometer violência letal (incluindo guerra) e têm maior probabilidade de cortejar, seduzir e trocar favores por sexo.” * As diferenças entre os sexos não são características arbitrárias, como a escolha da cor rosa para as meninas e azul para os meninos, são reais. Na grande maioria das vezes, homens e mulheres possuem características externas, órgãos sexuais, hormônios, cérebros e cromossomos diferentes. Por tudo isso é esperado que homens e mulheres pensem e comportam-se de formas diferentes. Entretanto, existem numerosos casos, onde essas diferenças não são assim tão nítidas. Algumas pessoas nascem com órgãos sexuais ambíguos, como os intersexos, outras têm uma anatomia que não correspondem aos seus cromossomos sexuais. Na síndrome de Klinefelter, os homens possuem cromossomos XXY, estatura elevada, desenvolvimento dos seios e dos quadris. Já na síndrome de Tuner a criança possui um único cromossomo X, herdado do pai ou da mãe, em vez de dois: XX para meninas e XY para meninos, e características femininas. As diferenças bio-pisico-social entre homens e mulheres existem, mas pelo visto a linha divisória não é assim tão rígida, como a sociedade nos faz crer. As travestis, aí estão provando que não só é possível transitar entre os dois mundos, como também vivê-los, simultaneamente, num só corpo.

Mega-hair, peitos de silicone, cirurgia plásticas são fenômenos recentes, são ferramentas do nosso tempo, disponíveis para a transformação de um corpo puramente masculino para um corpo misto masculino/feminino, para aqueles que já tinham a alma dupla; mas o travestismo não é fenômeno, exclusivamente, do nosso tempo. A bióloga transexual Joan Roughgarden, autora do livro Arco-Íris Evolutivo: Diversidade, Gênero e Sexualidade na Natureza e nas Pessoas, afirma que várias culturas desenvolveram técnicas seculares para operar a mudança de sexo. A comunidade hijra, que existe a séculos na Índia e já chegou a formar uma casta com mais de 1 milhão de pessoas, cortam o pênis e os testículos, usam nomes, roupas e acessórios femininos. Praticam sexo com homens e chegam a viver maritalmente. Na Roma Antiga, as sacerdotisas cibelianas eram homens que se transformaram em mulheres. Como não tinha anestésicos, a operação era feita em transe religioso, durante as cerimônias. Na Polinésia e entre os índios da América do Norte, o gênero da pessoa não está associado ao corpo, mas à ocupação social. Em algumas tribos norte-americanas existiam índios-mulheres e mulheres-homens que eram tidos como possuidores de duas almas, uma masculina e outra feminina (two-spirits) e por essas características lhes eram dados papéis específicos em rituais sagrados. 

Hijras, two-spirits, sacerdotisas cibelianas desfilam pelas ruas da história e ocupam seus pontos nas esquinas da moralidade, desafiando convenções e subvertendo definições. Orgulhosamente sendo homem e mulher no mesmo corpo.



* Tábula rasa: a negação contemporânea da natureza humana / Steven Pinker

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Amor de novela só existe em novela.

Imagem do google
Nasci numa cidade no interior da Bahia que fica aproximadamente a 374 km de Salvador e anos luz da civilização. Sou o 5º filho de um total de oito. Meu pai, homem de pouca instrução, que mal sabia assinar seu nome, construiu seu patrimônio financeiro a custa de muito esforço físico e intelectual. Sim, não saber ler e escrever não o tornou um perdedor, pelo contrário, saiu da linha da pobreza para se tornar um dos homens mais rico daquela cidade em pouco tempo e honestamente. Faltava-lhe cultura e bons modos, mas nunca lhe faltou dinheiro e zelo pelos filhos. O dinheiro nos trouxe uma casa enorme com todos os móveis possíveis, carros, motos, bicicletas, cavalos, fazendas, muitos empregados e uma TV. Na minha infância, televisão era um artigo de luxo e nós tínhamos umas das poucas televisões do meu bairro, era em preto e branco e não tinha controle remoto, ficava na sala de estar e era compartilhada por todos, por meus pais, meus muitos irmãos, empregados e vizinhos. Era uma festa assisti TV, não tinha briga para trocar de canal, porque sempre ficava no mesmo canal. Em 1973, aos sete anos de idade assisti a primeira versão de Mulheres de Areia, lembro de pouca coisa, lembro que eu odiava Rachel (a gêmea má) e a fala de Tono da Lua, amava ver o mar, as cortinas e os abajures. Os romances não me comoviam, mas ficava comovido com a relação que as crianças da novela tinham com seus pais e assim desenvolvi o meu gosto pelos “amores de novela”.

A minha primeira escolinha ficava do outro lado da rua, era só olhar para um lado e para o outro, sair correndo e em segundos estava lá. Mesmo assim levava meu lanche para escola, coloria desenhos, cantava músicas educativas etc. Era uma escolinha como toda escolinha de novela, mas não tinha meus pais na porta da escola me esperando. Cresci indo e vindo para todas as escolas que estudei na minha cidade, sozinho ou acompanhado de outra criança mais velha.  E nunca, nunca mesmo, nenhum dos meus pais foi me levar ou buscar na escola. Minha casa era a melhor do meu bairro, mas durante a minha infância inteira nunca teve nem abajur e nem cortinas, como nas casas das novelas. Nunca tomamos café da manhã, almoçamos ou jantamos todos juntos, nunca celebramos o Natal e nem nossos aniversários, como as famílias das novelas. A minha família era muito rica para os padrões da minha cidade, mas não nos portávamos como os ricos das novelas. Que frustração, não tive uma família de novela, um amor de novela, uma tragédia de novela e nem uma intriga de novela. Às vezes eu acho que sou uma ficção, nada na minha vida acontece ou já aconteceu como nas novelas.

A minha TV (imagem do google)
Meus dias começam sem o resumo do dia anterior e o pior termina sem: “a seguir cenas”. Nunca consegui correr em câmera lenta e nem ter “flash backs” em “slow motion”. Meus relacionamento atual já duram mais que 4 meses, não tem tema de amor e nem toca música toda vez que nos beijamos. Que triste, nunca tive um amor de novela. Quando conheci meu companheiro, o tempo não parou e nem o vento soprou no rosto dele, despenteando seu cabelo. Achei-o um pouco antipático e ele me achou desinteressante. Definitivamente, não foi amor a primeira vista, não foi e nem estar sendo um amor de novelas. Do lado de cá da telinha a gente briga e discute a relação, não por interferências um vilão lindo e sem escrúpulos, a gente briga porque 14 anos de idade nos separa, porque ele veio de uma família diferente da minha, porque eu tenho sonhos, desejos e necessidades diferentes das dele. Eu quero segurança e ele quer romance, ele quer monogamia sexual e emocional, eu me contendo só com a emocional. Ele quer isso e eu aquilo, ele quer o cru e eu o cozido, ele quer o hoje e eu o amanhã; queremos coisas diferentes o tempo todo, mas tem uma coisa, uma única coisa que queremos de forma igual e é isso que nos mantém nas nossas diferenças, queremos ser uma família.

É certo que atropelamos o tempo, subvertemos a ordem e fomos morar juntos antes de nos conhecermos. E isso é uma coisa meio comum no mundo gay, quase uma regra. Acredito que isso acontece, porque falta espaço público para se viver um amor entre iguais. Melhor é ir morar junto logo de cara, afinal não é nada agradável ficar se encontrando em motéis ou casas de amigos, namoro no portão, nem pensar. E qual o problema que há nisso? Todos. A começar que se perde a oportunidade de conhecer melhor o outro, desenvolver afinidades, polir as arrestas, reconhecer os porquês das diferenças e respeitá-las, para depois decidir quando e onde juntar os trapos. Morar junto logo de cara é voltar no tempo e reconstruir toda a trajetória dos casamentos arranjados, onde as esposas conheciam seus maridos já dentro das casas deles, com as suas regras e normas já estabelecidas por ele. Acho que o parceiro que chega num lar já pronto, provavelmente deve sentir-se um estranho no ninho e o pior, sem garantias que tudo que já está ali lhe pertence, também, de alguma maneira. Esse é um dos bilhões de conflitos pelo qual passamos.

Imagem do google
Eu: Alemberg Santana venho de um lar que nunca foi igual aos encontrados nas novelas, não tive uma mãe de novela. Ainda hoje sinto falta de uma “mãe de novela” que nunca tive. Como dona Nenê da Grande Família, por exemplo. Carrego o sentimento ou uma fantasia de que meus pais não foram suficientemente presentes, amáveis, compreensivos etc E espero que o meu companheiro preencha aquilo que sinto falta na minha família de origem. Provavelmente todos nós gays e heteros desejamos isso, formar uma família com seus parceiros. E esse é o segredo de ainda estarmos juntos, apesar das nossas diferenças, sentimos que já fazemos parte de uma família. Uma Grande Família de dois: eu e ele.

PS: eu não tenho um "amor de novelas", mas um dia vou fazer do meu casamento uma novela das oito. A seguir cenas.


“A família é universal e tem diversas funções. Atende a necessidades econômicas, uma vez que é muito mais fácil manter-se com ajuda de alguém; tem função afetiva, já que é uma espécie de ancoradouro dos indivíduos; e tem função social, pois é através dos laços que formam uma família que o tecido social fica coeso. E isso tudo não vai mudar.”

domingo, 7 de novembro de 2010

Tenho Medo de Gente

O vulcão quando entra em erupção, mata tudo que encontra pela frente e em poucas horas, humanos, animais e plantas viram cinzas. Anos depois de cessado o caos, das cinzas ressurge uma vegetação esplendorosa que atrai aves, répteis e insetos reiniciado um novo ciclo de vida e morte. E depois o vulcão entrará, novamente, em erupção e matará tudo que encontrar pela frente e em poucas horas, humanos, animais e plantas virarão cinzas. Anos depois de cessado o caos, das cinzas ressurgirá uma vegetação esplendorosa que atrairá aves, répteis e insetos reiniciado um novo ciclo de vida e morte. E depois o vulcão entrará, novamente, em erupção reiniciando um novo ciclo de vida e morte.

Morrer faz parte do ciclo da vida. A orquídea morre, a relva morre, o coelho morre, o sapo morre, a abelha morre, as bactérias morrem. O amor morre. Morre-se por asfixia, inanição, afogamento, queimadura, esmagamento, atropelamento. Morre-se por privação do ar, alimentos ou água. Morre-se por abandono, tristeza ou solidão. Morre-se fisicamente, espiritualmente ou psicologicamente. Morrer faz parte do ciclo da vida e a morte não me apavora e nem sequer me assusta.

Percebo que não só morrer faz parte do ciclo da vida, como também matar. Leões, focas, falcões, tubarões e uma infinidade de outros animais carnívoros matam outros animais para se alimentarem deles. Os herbívoros matam as plantas para se alimentarem delas, onívoros se alimentam de animais e vegetais, os insetívoros de insetos e granívoros de sementes. As plantas não ficam atrás, matam outras plantas e até pequenos insetos. Na natureza selvagem mata-se para adquirir alimentos, sobrevivência e até por diversão. As orcas brincam com golfinhos como se fossem bolas e eles morrem, cachorros matam animais pequenos ou insetos brincando, mas nenhum deles tortura suas vitimas como nós humanos fazemos. A tortura, também, é o que nos faz humano.

Iganani e sua mãe
O que me assusta e por vezes me choca é a forma, os motivos e a banalidade como o ser humano mata e/ou tortura tudo que está ao seu redor. Mata o meio ambiente, animais e outros humanos. Crianças matam formigas, só porque elas andam.  Adolescentes matam outros adolescentes para roubar um par de tênis, adultos matam outros adultos por briga de transito. Iranianos matam mulheres adulteras e homossexuais por apedrejamento. Hutus e Tutis mataram uns aos outros, levando à morte quase um milhão de pessoas em apenas cem dias (Ruanda, 1994). No Brasil, a indígena Muwaji Suruwahá lutou bravamente pela sobrevivência de sua filha Iganani, que nasceu com paralisia cerebral e tinha como destino certo a morte por assassinato.  Pois é costume do seu povo enterrar viva ou matar as crianças que nasçam com má formação ou que, simplesmente, nasçam gêmeas.

Odete Roitman - minha mãe. KKK!
O assassinato de recém nascidos (infanticídio) é bem maior do que se imagina. É a principal causa de morte não natural nessa faixa etária. Estranguladas, sufocadas, asfixiadas por almofada, afogadas enterradas vivas, degoladas, jogadas contra o pilar da cama, golpeadas. Mundo a fora, crianças se extinguem sem que ninguém, além de suas próprias mães, saibam das suas existências. E isso não é um fenômeno recente, “os fenícios e o cartagineses prestavam ao deus Moloch oferecendo seus filhos e as crianças em geral. O mesmo ocorria no oriente, em Esparta e na América Pré-colombiana. [...] Entre os gregos era comum o sacrifício de crianças, de qualquer idade, que apresentassem alguma deformidade física, evidenciando que o grande culto ao corpo, à estética e a beleza daquela civilização não encontrava limites éticos”. No século XVII era comum entregar as crianças a uma ama-de-leite, e isso era uma forma de infanticídio, visto as condições precárias que se encontravam as amas-de-leite. E muitas crianças jamais retornaram ao lar. Falar em infanticídio é sempre muito doloroso e complexo porque normalmente se pensa na mulher-mãe como uma pessoa doce, solícita, simpática com uma sabedoria espiritual que transcendem a razão; aquela que acaricia, cuida e alimenta, propiciando o crescimento físico, intelectual e espiritual das suas crias. Em suma, todos esperam que as mães sejam sempre e só boas. Porém, a mãe má que devora, envenena e até mata suas crias existem abundantemente por aí e é mais comum do que se imagina. Não é preciso que as mulheres-mãe se tornem como as vilãs: Bia Falcão, Laurinha Figueroa, Nazaré Tedesco, ou Odete Roitman para que seu potencial de matar, ainda que simbolicamente, se tornem evidentes, basta apenas prestar um pouco de atenção nos atos e atitudes da sua mãe que você verá que matar e morrer fez parte de todo o seu ciclo natural.
Eu: Alemberg Santana sou um réu confesso, matei simbolicamente um monte de gente, por diversas razões. Torturei e fui torturado. Ainda estou de luto por algumas mortes e atônito por alguns atos de tortura. Matar e morrer faz parte do ciclo da vida e eu não tenho medo da morte, tenho é medo de gente.




sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Ateu, graças a Deus.

Clube dos Anjos.

Não é a primeira vez que a religião entra no debate político brasileiro, em 1985, por exemplo, Fernando Henrique Cardoso, sentiu o gosto amargo da Fé, ao ser evasivo, quando lhe perguntaram, num debate político, transmitido pela TV, se ele acreditava em Deus. Jânio Quadro, seu adversário político da época, venceu a eleição para prefeito de São Paulo, com o “santo” voto dos eleitores conservadores. Nos últimos dias, católicos e evangélicos têm se mobilizado contra a candidatura de Dilma Roussef e José Serra, pela presidência do Brasil, por causa de várias declarações deles em defesa ou contra a legalização do aborto e do casamento gay. Desde então, presidenciáveis e eleitores entraram em uma verdadeira guerra santa e isso é bom, muito bom. Assim, pela primeira vez, a necessidade de separar o Estado da Religião tornou-se evidente e entrou na pauta do dia pela porta da frente.

Desde sempre Direito e Religião se inter-relacionam, hora apresentando pontos de semelhança, hora pontos de distinção, dependendo do momento histórico. Em praticamente todas as sociedades do mundo as leis surgiram como parte da Religião vigente e eram fundamentadas e originadas dela. A princípio as normas do Direito eram dispostas dentre as regras religiosas. As leis mais antigas regiam sobre tudo, desde os ritos religiosos e cultos sagrados, passando por normas sociais e até higiene pessoal. E o mais grave, era que os antigos acreditavam que as leis eram ditadas diretamente pelos deuses ou Deus à pessoa eleita, como os 10 mandamentos.
           
De modo geral, a Religião, prega valores e princípios dogmáticos para serem obedecidos e seguidos pelo homem por toda a sua vida. Valores esses que induzem seus fiéis a determinadas condutas sociais e proibições, muitas proibições, em nome do Bem. Nesse aspecto, o Direito e a Religião se parecem por comungarem de mecanismos para o controle social, que impõem condutas e valores e que têm como finalidade o bem comum. A diferença fundamental é que no Direito as leis mudam de acordo com as necessidades do momento, evoluem. E na Religião não, suas leis, normas e regras são dogmáticas e permanentes.

Adão & Ivo


Quando a Bíblia, o livro sagrado do Cristianismo, condena abertamente a homossexualidade masculina, através do livro Levitico, capítulo 18, versículo 22, dizendo: “Com homem não te deitarás, como se fosse mulher; abominação é;” e ainda sentencia uma dura penalidade, por isso, dizendo que: “Quando também um homem se deitar com outro homem, como com mulher, ambos fizeram abominação; certamente morrerão; o seu sangue será sobre eles.” (Levitico 20:13), isso significa que para sempre a homossexualidade será um pecado e todo homossexual será punido. Portanto, discutir qualquer avanço nas regras sociais em termos religioso é uma completa perda de tempo, nessa e em qualquer outra eleição. Eu: Alemberg Santana, ao contrário da maioria, não acho que Deus entrou na eleição, acho sim, que através dessa eleição a sociedade brasileira entrou na discussão mundial, até onde podemos permitir que Deus entre nas nossas leis, normas e regras.

Quem interpreta a Bíblia de forma literal nos tempos de hoje, sem seguir todos os seus preceitos recomendados como: escravizar (Pedro 2:18), apedrejar, cortar a mão, furar os olhos (Mateus 5: 22-30), etc certamente vive em pecado. É sabido que na Bíblia não existe uma escala de pecados: pecadinho, pecado e pecadão, ou isso é mais pecado e aquilo é menos pecado. Pecado é pecado. Quem escreveu cada livro da Bíblia não imaginou que os tempos modernos seriam tão diferentes e diversos, não imaginou que a maioria dos países do mundo viveria sob um regime democrático e que a escravatura seria abolida. Que seria possível e desejável a realização de transplante de órgãos, que haveria poluição e a exploração do espaço sideral, portanto a interpretação literal da Bíblia não tem como abordar temas contemporâneos sem provocar um grande embaraço.

Não é a toa que o número de pessoas que se declaram ATEU, tem crescido mundo a fora. Homossexualidade e algumas religiões (pelo menos as de origem judaico-cristã) são inconciliáveis e o homossexual que se diz Católico, Batista, Evangélico, Espírita, e afins certamente está acendendo uma vela para Deus e outra para o Diabo, diariamente. E que me atire à primeira pedra, àquele que não vive em pecado.

Eu oro pela beatificação de Lula kkk!

PS: Não esqueçam que Religião e Espiritualidade são coisas distintas e prometo um dia expor minha opinião sobre Espiritualidade.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Uma Pele para Dois.

Não só no Brasil como no mundo todo, muito antes da Abolição da Escravatura, movimentos sociais envolvendo negros, ainda que clandestinos, já lutavam por cidadania; pois não só a liberdade como também direitos civis e conceitos morais lhes eram negados, só pela pigmentação escura de suas peles. Felizmente, graças aos esforços de muita Gente negra (com G maiúsculo), grandes avanços sociais foram conquistados ao longo da história mundial.
Tanto que, hoje, o homem mais importante do mundo é negro: Barack Hussein Obama II, presidente dos Estados Unidos da America. Presidente do país mais rico e influente do mundo não pela cor da sua pele e nem apesar dela, certamente, mas por sua competência como Gente, que por acaso ou apesar de tem a pele negra.

A pele é praticamente igual em todos os grupos étnicos humanos, independente da sua cor. A pele é o maior órgão de percepção e comunicação do ser humano, esticada, tem cerca de 2 metros quadrados, é contínua e envolve toda a superfície externa do corpo, sendo apenas interrompida em seus orifícios naturais: as pálpebras, narinas, canais auditivos, boca, uretra e ânus. Tem como função principal proteger o nosso corpo das ameaças externas. Preta, branca, amarela ou vermelha a pele impermeabilizar, aquecer, proteger e realizar o equilíbrio térmico do corpo. E o que faz a cor da pele ser preta, branca, amarela ou vermelha é um pigmento chamado melanina, juntamente o caroteno (outro pigmento), que se localiza no tecido adiposo subcutâneo, que tem a cor alaranjada e os vasos sanguíneos, que quanto mais superficiais e dilatados, mais a pele fica escura. A melanina protege a pele contra os efeitos nocivos dos raios solares e em ternos biológicos a pele negra tem mais vantagens, mas culturalmente, negros, mestiços e mulatos pagam um preço muito alto por ter uma dose de pigmento melânico a mais em suas peles. Apesar do ser humano não ser só uma pele, utilizaram (principalmente) a cor da pele, a textura e cor do cabelo, os traços da face (lábiosolhos e nariz), para dividir a humanidade em raças e veio o racismo.

Há muito tempo, cientistas no mundo todo, das mais diversas áreas têm se esforçado, com maestria, para provar que o conceito de raça humana nem sequer existe e conseguiram. “O problema é que raça não é apenas um conceito. É também uma realidade simbólica, um termo da linguagem popular que se identifica com imagens reconhecíveis, como a cor da pele ou o aspecto dos cabelos.” Disse Pierre-André Taguieff, filósofo e cientista francês em entrevista para a Revista Superinteressante (edição 66 – Editora Abril).  E disse mais:

“Pode-se, sem dúvida, lutar contra a pseudociência com a ciência. Sem problemas. Mas as teorias anti-racistas não estão funcionando porque elas utilizaram argumentos da sabedoria. Estes argumentos são levados em consideração unicamente no mundo em que eles são considerados sérios. Cada um vive, no entanto, em vários mundos: um científico, outro da experiência vivida, etc. No mundo da razão, cada um pode estar de acordo com o anti-racismo científico. Mas no mundo da experiência vivida, existe sempre aquele mas: Você tem razão, mas você não o conhece. Sou eu que vivo lado a lado com alguém diferente, que come outra comida, ouve música exótica ou cheira mal. Pode-se também lutar contra um mito com outro mito, como aconteceu a partir da década passada. A tática anti-racista foi fazer a apologia do mestiço: ele é mais bonito e mais rico que os outros, pois tem várias origens raciais e culturais. Um absurdo, pois voltamos ingenuamente ao racismo biológico. A crise anti-racista, a meu ver, se deve a estes dois fatores: quando o discurso é científico, ele passa ao largo do problema; quando é simbólico, faz parte do mesmo campo de idéias”.
  
Pois é Gente, a pigmentação da pele fez e ainda faz muita Gente sentir na própria pele a dor da discriminação. Da mesma forma Eu: Alemberg Santana sinto na minha própria pele a dor da discriminação, simplesmente, porque a minha pele só se arrepia pelo toque da pele de alguém que tem o mesmo sexo que o meu; mas deixa estar, o mundo gira e nada melhor do que um dia após o outro, hoje o homem mais importante do mundo é alguém que por acaso ou apesar de é um negro, um dia será alguém que por acaso ou apesar de é um(a) homossexual. Nem a cor da pele e nem a orientação sexual por si só faz o Homem. Tenho dito.



"Nós não determinamos a quem vamos amar. E é por isso que eu acho que a discriminação com base na orientação sexual é errada". 
Obama