domingo, 7 de novembro de 2010

Tenho Medo de Gente

O vulcão quando entra em erupção, mata tudo que encontra pela frente e em poucas horas, humanos, animais e plantas viram cinzas. Anos depois de cessado o caos, das cinzas ressurge uma vegetação esplendorosa que atrai aves, répteis e insetos reiniciado um novo ciclo de vida e morte. E depois o vulcão entrará, novamente, em erupção e matará tudo que encontrar pela frente e em poucas horas, humanos, animais e plantas virarão cinzas. Anos depois de cessado o caos, das cinzas ressurgirá uma vegetação esplendorosa que atrairá aves, répteis e insetos reiniciado um novo ciclo de vida e morte. E depois o vulcão entrará, novamente, em erupção reiniciando um novo ciclo de vida e morte.

Morrer faz parte do ciclo da vida. A orquídea morre, a relva morre, o coelho morre, o sapo morre, a abelha morre, as bactérias morrem. O amor morre. Morre-se por asfixia, inanição, afogamento, queimadura, esmagamento, atropelamento. Morre-se por privação do ar, alimentos ou água. Morre-se por abandono, tristeza ou solidão. Morre-se fisicamente, espiritualmente ou psicologicamente. Morrer faz parte do ciclo da vida e a morte não me apavora e nem sequer me assusta.

Percebo que não só morrer faz parte do ciclo da vida, como também matar. Leões, focas, falcões, tubarões e uma infinidade de outros animais carnívoros matam outros animais para se alimentarem deles. Os herbívoros matam as plantas para se alimentarem delas, onívoros se alimentam de animais e vegetais, os insetívoros de insetos e granívoros de sementes. As plantas não ficam atrás, matam outras plantas e até pequenos insetos. Na natureza selvagem mata-se para adquirir alimentos, sobrevivência e até por diversão. As orcas brincam com golfinhos como se fossem bolas e eles morrem, cachorros matam animais pequenos ou insetos brincando, mas nenhum deles tortura suas vitimas como nós humanos fazemos. A tortura, também, é o que nos faz humano.

Iganani e sua mãe
O que me assusta e por vezes me choca é a forma, os motivos e a banalidade como o ser humano mata e/ou tortura tudo que está ao seu redor. Mata o meio ambiente, animais e outros humanos. Crianças matam formigas, só porque elas andam.  Adolescentes matam outros adolescentes para roubar um par de tênis, adultos matam outros adultos por briga de transito. Iranianos matam mulheres adulteras e homossexuais por apedrejamento. Hutus e Tutis mataram uns aos outros, levando à morte quase um milhão de pessoas em apenas cem dias (Ruanda, 1994). No Brasil, a indígena Muwaji Suruwahá lutou bravamente pela sobrevivência de sua filha Iganani, que nasceu com paralisia cerebral e tinha como destino certo a morte por assassinato.  Pois é costume do seu povo enterrar viva ou matar as crianças que nasçam com má formação ou que, simplesmente, nasçam gêmeas.

Odete Roitman - minha mãe. KKK!
O assassinato de recém nascidos (infanticídio) é bem maior do que se imagina. É a principal causa de morte não natural nessa faixa etária. Estranguladas, sufocadas, asfixiadas por almofada, afogadas enterradas vivas, degoladas, jogadas contra o pilar da cama, golpeadas. Mundo a fora, crianças se extinguem sem que ninguém, além de suas próprias mães, saibam das suas existências. E isso não é um fenômeno recente, “os fenícios e o cartagineses prestavam ao deus Moloch oferecendo seus filhos e as crianças em geral. O mesmo ocorria no oriente, em Esparta e na América Pré-colombiana. [...] Entre os gregos era comum o sacrifício de crianças, de qualquer idade, que apresentassem alguma deformidade física, evidenciando que o grande culto ao corpo, à estética e a beleza daquela civilização não encontrava limites éticos”. No século XVII era comum entregar as crianças a uma ama-de-leite, e isso era uma forma de infanticídio, visto as condições precárias que se encontravam as amas-de-leite. E muitas crianças jamais retornaram ao lar. Falar em infanticídio é sempre muito doloroso e complexo porque normalmente se pensa na mulher-mãe como uma pessoa doce, solícita, simpática com uma sabedoria espiritual que transcendem a razão; aquela que acaricia, cuida e alimenta, propiciando o crescimento físico, intelectual e espiritual das suas crias. Em suma, todos esperam que as mães sejam sempre e só boas. Porém, a mãe má que devora, envenena e até mata suas crias existem abundantemente por aí e é mais comum do que se imagina. Não é preciso que as mulheres-mãe se tornem como as vilãs: Bia Falcão, Laurinha Figueroa, Nazaré Tedesco, ou Odete Roitman para que seu potencial de matar, ainda que simbolicamente, se tornem evidentes, basta apenas prestar um pouco de atenção nos atos e atitudes da sua mãe que você verá que matar e morrer fez parte de todo o seu ciclo natural.
Eu: Alemberg Santana sou um réu confesso, matei simbolicamente um monte de gente, por diversas razões. Torturei e fui torturado. Ainda estou de luto por algumas mortes e atônito por alguns atos de tortura. Matar e morrer faz parte do ciclo da vida e eu não tenho medo da morte, tenho é medo de gente.




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