sábado, 9 de outubro de 2010

Alguém Para Chamar de Seu.

Estudiosos das relações heterossexuais costumam dizer que os fatores de atracão entre homens e mulheres diferem quanto ao sexo, sendo que as mulheres valorizam, sobretudo, o status e a riqueza e os homens os aspectos físicos e a juventude. E por isso, consideram que os homens são de Marte e as mulheres de Vênus. Sendo assim, só me resta questionar de que planetas vêem gays e lésbicas? Pelo visto, habitamos num planeta desconhecido.

Desconfio que Eu: Alemberg Santana vim do asteróide B 612.

“Esse asteróide só foi visto uma vez ao telescópio, em 1909, por um astrônomo turco. Ele fizera na época uma grande demonstração da sua descoberta num Congresso Internacional de Astronomia. Mas ninguém lhe dera crédito, por causa das roupas que usava. As pessoas grandes são assim.
Felizmente para a reputação do asteróide B 612, um ditador turco obrigou o povo, sob pena de morte, a vestir-se à moda européia. O astrônomo repetiu sua demonstração em 1920, numa elegante casaca. Então, dessa vez, todo o mundo se convenceu.
Se lhes dou esses detalhes sobre o asteróide B 612 e lhes confio o seu número, é por causa das pessoas grandes. As pessoas grandes adoram os números.
Quando a gente lhes fala de um novo amigo, elas jamais se informam do essencial. Não perguntam nunca: “Qual é o som da sua voz? Quais os brinquedos que prefere? Será que coleciona borboletas?” Mas perguntam: “Qual é sua idade? Quantos irmãos ele tem? Quanto pesa? Quanto ganha seu pai?” Somente então é que elas julgam conhecê-lo. Se dizemos às pessoas grandes: “Vi uma bela casa de tijolos cor-de-rosa, gerânios na janela, pombas no telhado…” elas não conseguem, de modo nenhum, fazer uma idéia da casa. É preciso dizer-lhes: “Vi uma casa de seiscentos contos”. Então elas exclamam: “Que beleza!”“ (O Pequeno Príncipe - Antoine de Saint Exupéry)

Na verdade não desconfio, tenho certeza, por que sou um daqueles “adulto” que cresce em tamanho, mas continua pensando e agindo como O Pequeno Príncipe, acreditando mais no “essencial” que é invisível para os olhos, do que nos números. Vou explicar. Andou-se dizendo que o casamento, no Brasil, andava em declínio, que progressivamente as pessoas estavam casando menos, mas em 2007, baseado em números, o IBGE divulgou que em 2006 foram realizados 889.828 casamentos no Brasil, 6,5% a mais do que em 2005 (835.846). Porém nessa época o IBGE definia o casamento como: “o ato, cerimônia ou processo pela qual é constituída a relação entre o homem e a mulher. A legalidade da união pode ser estabelecida no casamento civil ou religioso com efeito civil e reconhecida pelas leis de cada país. No Brasil, um indivíduo só poderá casar legalmente se o seu estado civil for solteiro, viúvo ou divorciado”. Ou seja, os casamentos gay e heterossexual-não-oficializado não constaram nos números oficiais. Analisaram os números, mas não os fatos. Acredito que nesse período histórico, da qual se falou em declino do casamento, na verdade, a população de forma inconsciente, desejou e fez das suas relações algo privado e não público e oficializado, mas o estado tratou de retomar, conscientemente, o controle sobre as relações e promoveu casamentos coletivos, Brasil a fora.




O casamento era para ser uma relação, não uma instituição, mas normatizaram o casamento e o “normal” tornou-se uma exclusividade heterossexual, regulamentaram o casamento e o casamento virou um documentado. Fizeram do casamento uma fonte de lucro, um marco zero, um controle social. Casar virou sinônimo de ir para forca. No entanto, apesar de já terem ouvido tudo de ruim sobre o casamento, gays do mundo todo se uniram em uma corrente em nome dos direitos iguais, mesmo correndo o risco de verem suas relações inomináveis e livres, virarem mais uma relação normatizada, legalizada e institucionalizada.
Que fique bem claro que não sou contra direitos iguais, direito de escolha e nem do casamento gay (já informei ao IBGE que vivo “maritalmente” com outro homem). E nem estou negando que o casamento normatizado, legalizado e institucionalizado não tenha lá suas vantagens, tem sim em termos jurídicos e por não casar deixamos de ter acesso a 36 itens do Direito Civil, mas vale lembrar das suas desvantagens: atualmente a pensão alimentícia e a divisão de bens viram um atrativo para pessoas de má fé. Viram notícias nas páginas policiais. Tenho amigos gays, por exemplo, que casaram no exterior só para tirarem vantagem da legalização. Por isso e por outras, tenho medo das conseqüências dessa normatização, legalização e institucionalização dessa relação inominável e livre que era essencialmente privada.

PS: Eu tenho um companheiro por gosto e convicção, não por dever.

3 comentários:

  1. + Pax +
    Bom dia, meu querido...
    Adorei a postagem e os seus pontos de vista a respeito do dever civil e o gostar, o amor que deve estar e deveria estar acima de qualquer outra coisa. Tudo se tornou número, porque nossos relacionamentos na sociedade, são totalmente capitalistas, vemos os outros como cifrões, e não somos verdadeiros comunistas, por vermos as pessoas com corações capazes de amar e sentir o mesmo que cada um sente, embora em sintonias diferentes, mas a melodia sempre terá as mesmas notas. Creio que nós homossexuais, temos a capacidade de sentir este algo especial, embora alguns ainda vejam cifrões, mas são capazes de perceber que também este tal faz sofrer. Mas tudo a um tempo os fará perceber que há o quesito amor e convicção a nos tornar mais suaves e amantes desta vida.

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  2. Caro amigo "Eu: Alembreg Santana", o fato de ser homosexual não me torna um ser de outro planeta. Conforme o seu texo, os homens são de marte, portanto, de lá também o sou, mesmo sendo homossexual. Seu texto além de reducionista é também machista. Explico e transcrevo: ... Casar virou sinônimo de ir para forca. Creio eu que, toda relação é baseada em troca (não necessáriamente financeira) mas de uma forma ou de outra espera-se do companheiro algo que o complete, afinal, como disse um psicanalista renomado "somos sujeitos da falta" e, portanto, buscamos algo que nos complete. Nenhum papel ou instituição será capaz de ditar ou dirigir a forma com que me relaciono com meu parceiro. E como dito por você caro blogueiro em um Post anterior: "não somos farinha do mesmo saco".

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  3. Weber, obrigado por seu comentário, vai aqui uma nota de esclarecimento.

    O Dr. John Gray, Ph. D., autor do livro Os Homens são de Marte, Mulheres são de Vêneus (1996) diz que o principal motivo da falência da relação entre homens e mulheres, é a diferença inerente ao sexo biológico deles. No nosso caso não existe diferença de sexo, amamos o igual e nem por isso não deixa de existir conflitos nas nossas relações, não é verdade?

    Logo de cara, no capítulo I, ele diz:

    “Imagine que os homens são de Marte e as mulheres de Vênus. Um dia, há muito tempo, os marcianos,
    olhando através de seus telescópios, descobriram as venusianas. Bastou uma olhadela nas venusianas
    para despertar sentimentos desconhecidos até então. Eles se apaixonaram e rapidamente
    inventaram a viagem espacial e voaram até Vênus.
    [...]
    Tanto os marcianos quanto as venusianas esqueceram que eram de planetas diferentes e que
    deviam ser diferentes. Naquela manhã tudo o que tinham aprendido sobre suas diferenças foi apagado
    de sua memória. E desde esse dia homens e mulheres têm vivido em conflito.”

    Veja o livro on line em:

    http://www.secth.com.br/imagens/editor/e-book/homens_sao_de_marte_mulheres_sao_de_venus.pdf

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