quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O Closet de Pandora

A caixa de Pandora
Segundo a mitologia grega, Pandora foi a primeira mulher a habitar a terra, criada por Hefesto e Atena, auxiliados por todos os deuses, sob as ordens de Zeus. Cada um lhe deu uma qualidade. Como nem tudo é perfeito, nem no mundo espiritual, Hermes, porém pôs no seu coração a mentira e a traição. Feita à semelhança das deusas imortais, destinou-a Zeus à espécie humana, como punição por terem os homens recebido de Prometeu o fogo divino. Enviada a Epimeteu, a quem Prometeu recomendara que não recebesse nenhum presente dos deuses. Vendo-lhe a radiante beleza, Epimeteu esqueceu quanto lhe fora dito pelo irmão e a tomou como esposa. Epimeteu tinha em seu poder uma caixa que antes lhe haviam dado os deuses, que continha todos os males. Avisou a mulher que não a abrisse. Pandora não resistiu à curiosidade. Abriu-a e os males escaparam. Esta é uma das muitas versões do mito de Pandora, existem outras, mais elaborados e menos dramáticas, mas é esta que vou usar para mostrar o quanto o mundo heterossexual teme a “Revolução Gay”. Porém, antes vamos conhecer a origem da tão famosa expressão: sair do armário ou come out of closet.

“O termo inglês closet (do latim clausurum, particípio presente do verbo claudere, que significa “fechar”) teve muitas outras significações antes de se referir à homossexualidade clandestina. Assim, denotou um lugar fechado, privado, no qual se tem conversações secretas, ou um lugar para guardar objetos preciosos. Assim, representa o privado em oposição ao público; o íntimo em oposição ao social; o que está escondido em oposição ao que está descoberto. Como derivação desses sentidos, a expressa to come out of closet (“sair do armário”, às vezes reduzida para to come out) refere-se, atualmente, ao fato de assumir plenamente sua homossexualidade, tanto na esfera pública como na privada”. (Marina Castañeda em A Experiência Homossexual, A Girafa Editora, 2007)
Bem, agora que a tal Pandora já foi devidamente apresentada e vocês já sabem de que closet Eu: Alemberg Santana estou falando, vamos conhecer a minha teoria que explica o medo e a necessidade de permanecermos no closet (armário).
Todos os povos do mundo têm seus próprios mitos e os mitos se destinam explicar a realidade, os principais acontecimentos da vida, os fenômenos naturais, as origens do mundo e do ser humano por meio de deuses, semi-deuses e heróis. Mudam-se os personagens e a maneira como são narrados os mitos, mas às vezes podemos agrupar os mitos por temas. E este nos traz a temática, já conhecida na Bíblia, nos capítulos iniciais do livro do Gênesis, onde o conhecimento (o novo) é apresentado como o responsável pela Humanidade viver em desgraça. Como se tudo que já existe em algum lugar, quer seja dentro da caixa de Pandora ou que brota da árvore do conhecimento do bem e do mal, ou reside dentro do armário, quando revelado ou colhido, irá necessariamente destituir o homem da sua inocência necessária para manter a ordem vigente. Ou seja, a Humanidade carrega em si, desde o começo das civilizações, um medo ancestral de tudo que é novo, pois acredita que de alguma maneira o novo irá anular o velho, no nosso caso que o casamento igualitário irá acabar com o casamento heterossexual, com a família e por fim com a humanidade inteira (por uma esterilização voluntária ou algo semelhante).
Releitura de O Grito - Edvard Munch
O medo do novo está presente em toda a história da Humanidade, foi assim, com a abolição da escravatura, quando o negro começou a freqüentar as universidades, quando a mulher começou a trabalhar fora de casa, quando surgiram as primeiras leis do divórcio, a pílula anticoncepcional, etc, etc e etc. A “Revolução Homossexual” (ou movimento Queer), agora é o novo que de novo amedronta a Humanidade e nós gays que somos humanos e fazemos parte dessa massa, temos medo do novo que há dentro de cada um de nós. E assim, o closet de Pandora não serve apenas para nos escondermos, serve também para esconder o que a Humanidade não quer ver e nos poupar de uma falsa cresça de que nós somos os responsáveis por tirar da Humanidade, mais uma vez, sua suposta inocência: homem não chora, não se enfeita e nem discute relação, as famílias são necessariamente composta por um pai e uma mãe, a mulher é o segundo sexo, delicada e precisa do homem para sobreviver... Santa Inocência!

Um comentário:

  1. Viver em uma sociedade que subtrai o direito de alguns tendo em vista a orientação sexual revela-se como uma triste constatação. A influência religiosa em um país laico, como o Brasil, remonta a o próprio culturalismo havido na terra brasilis...A caixa de pandora se manisfesta na vida de cada um de nós e torna a vida mais hipócrita e menos isonômica. A cultura segregatória simplesmente reproduz e amplifica a violência, o misticismo e o consequente preconceito sobre a realidade homossexual! Parabéns pelo texto! Feliz será o dia em que cada um de nós abrirmos a caixa de Pandora e dividirmos o que há de melhor nela! Abraço!

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